Tentativa de Escola Moderna

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

“Eram propósitos, ao fundar-se a então Escola Proletária de Meriti, continuar o que fora interrompido em Angra: um ensaio de escola moderna, regional.

Não tendo sob os olhos nenhum modelo a seguir, foi inaugurada em 13 de fevereiro de 1921, sem um só programa escrito; tomou desde o começo, no entanto, a feição de um lar escola, embora externato, com número limitado de alunos, a quem não se dão notas, prêmios ou castigos. A orientação geral apresentava-se resumida em quatro cartazes com os dizeres: Saúde, Alegria, Trabalho e Solidariedade. Juntamente com a Escola, considerada anexo indispensável, inaugurava-se a Biblioteca Euclides da Cunha, repartida em três seções: para alunos, professores e moradores de Meriti. Um museu escolar foi-se logo organizando, em parte com as contribuições trazidas pelos próprios alunos, da natureza local. Muito naturalmente, as funções domésticas, mais as de auxiliar da Biblioteca e do Museu, e outras que a vida do estabelecimento ia exigindo, foram sendo exercidas pelas crianças. Nunca tivemos um servente ou outro empregado para tais misteres.

Se a feição de escola-casa de família, baseada na liberdade, no trabalho individual, nos hábitos de saúde, na alegria com que se desempenham as funções domésticas, se essa face evidenciou-se desde os primeiros dias, a outra, de ação na vida local, direta, essa foi surgindo à partir do 3º ano de existência da Escola, com o 1º concurso de “Janelas Floridas” em 1923. [...] Combater a fealdade e o desconforto de Meriti, dar-lhe a alegria das flores e a sombra das árvores, tais são os fins visados pela iniciativa da escola. A princípio só os alunos floriram suas janelas; depois a população foi concorrendo também [...]. Na mesma ordem de idéias instituiu-se o “Concurso de Criação”. 

Que saibamos, coube à Escola Regional a fundação do primeiro “Circulo de Mães” entre nós, o qual, como as outras afirmações de sua atividade, foi-se esboçando desde os primeiros tempos, para afinal surgir em hora oportuna. Daí sua eficácia. Tem dois anos e meio de funcionamento, com programa especialmente traçado para aquelas mães, analfabetas e sua maioria; higiene, educação familiar e economia doméstica são as três partes do programa destinado a preparar a cooperação, que sonhamos, das famílias com a Escola.

Dentre as campanhas em que se tem empenhado a Escola em favor da comunidade, certo a do saneamento é a mais importante. Este ano satisfez-nos essa aspiração – a maior do povo Meritiense – a Diretoria de Saneamento Rural.

Mandamos às famílias boletins mensais, comunicando todas as atividades do aluno, os exames de saúde, os atos de bondade que praticou (se os praticou), seguindo o seu desenvolvimento, sem compará-lo ao dos companheiros. Nada que se pareça com notas, pelo contrário; estimulamos em cada um a auto-crítica, desejosos antes de tudo, de favorecer a formação de homens e mulheres fortes.

A escola, em seus primeiros tempos, foi mantida exclusivamente pela firma F. Venâncio & Cia., fabricantes do explosivo Rupturita, em Meriti. Decorrido um ano e pouco, em 1922, modificamos nosso plano inicial, fundando uma caixa escolar, para qual os moradores de Meriti poderiam também contribuir. Passados outros dois anos, em 1924, o desenvolvimento da caixa era tal, que resolvemos transformá-la em Fundação Dr. Álvaro Alberto, agora com três seções: Escola Regional de Meriti, Biblioteca Euclides da Cunha e Museu Regional de Meriti, as duas últimas destinadas a auxiliar a primeira e a espalhar um pouco de cultura entre os adultos.

Seria injusto atribuir-se a uma só vontade o esforço de que resulta nossa Escola.

Os nomes de Francisco Venâncio Filho, Edgar Süssekind de Mendonça, Belisário Pena, Heitor Lyra e Otávio Veiga, colaboradores no passado e no presente, a ela estão ligadas pelo muito que deve a cada um.

Os métodos de educação, venham eles da Suíça, dos Estados Unidos, da Itália, desde que se baseiem na liberdade, que consente a plena expansão da individualidade, e no trabalho, que leva a criança a observar, a experimentar, a descobrir e a fazer por si – são os únicos dignos de serem adotados hoje em dia.

A escola primária tem que ser regional, o que não a impede de ser brasileira. Tanto melhor reagirá sobre o seu meio, quanto mais adaptada lhe estiver.

A cooperação da família na obra da escola é indispensável. Em cada escola deve existir um Círculo de Mães, que as prepare convenientemente.

Sem a iniciativa particular, o Brasil não resolverá tão cedo o problema da educação do seu povo, simplesmente porque faltam à União e aos Estados os recursos financeiros suficientes. A Escola Regional de Meriti tem por máxima aspiração ser reproduzida em todo o país.”

Armanda Álvaro Alberto

Tese aprovada para a 1ª Conferência Nacional de Educação; Curitiba/dezembro de 1927. Publicada no Jornal do Comércio em 15 de abril de 1928
* Texto editado para postagem.

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